quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Criador do apelido Super Ézio lamenta morte: 'Marcou a minha vida'

Ex-locutor Januário de Oliveira se emociona ao lembrar de histórias com o atacante tricolor e ainda guarda camisa que ganhou de seu último jogo

Por Mariana Kneipp Rio de Janeiro
januário de oliveira  (Foto: reprodução Facebook)Januário de Oliveira lembra com carinho da
amizade com Ézio (Foto: reprodução Facebook)
“Super, super, super Ézio”. Era assim que Januário de Oliveira narrava os gols de um ídolo do Fluminense da década de 90, que faleceu na noite dessa quarta-feira, devido a um câncer no pâncreas. Aos 71 anos, o locutor lembra com detalhes de como criou o apelido e com carinho daquele que se tornaria mais do que só um jogador para ele.
- O apelido marcou não só a vida dele, mas a minha. Acho até que o admirava mais como pessoa do que como atleta. Mantínhamos contato até pouco tempo. Tenho o telefone da casa dele, o celular. Quando soube que ficou doente, liguei e conversamos longamente. Ele tinha esperanças, estava animado com o tratamento. Mas soube que já estava com uns 40kg. Teve uma recaída no domingo e nos deixou. Estou muito triste com essa perda - disse o locutor, torcedor do Fluminense, que ligou para o clube e para a família do jogador para transmitir suas condolências.
Hoje, com problemas de visão em decorrência da diabetes, Januário não pôde ver as citações de seu nome na internet como o criador do apelido do ídolo tricolor. Porém, pediu a seu neto que o fizesse e se emocionou. Ao sair para ir a uma academia em Goiânia, onde mora atualmente, também não conteve a emoção com pessoas nas ruas o parando para lembrar histórias de Ézio. Passagens que ele lembra com clareza, assim como o início da relação mais próxima com o atacante.
- Eu estava almoçando com um amigo no Rio de Janeiro quando o Ézio entrou na churrascaria. Comentamos que para fazer gols com a ajuda daquele time do Fluminense, que na época era muito fraquinho, tinha que ser herói. Então, meu amigo falou: “Herói, não. Tem que ser super-herói”. Fiquei pensando nisso. No domingo, teve o jogo contra o Botafogo, e ele marcou dois gols (no empate por 2 a 2). Já no primeiro, narrei como Super Ézio. Saiu naturalmente. Nem gritei assim no segundo. Mas, quando cheguei à TV na segunda-feira, aquilo tinha feito tanto sucesso, que revi a fita e achei legal também - relembrou.
Januário contou que o apelido teve o reconhecimento do próprio Ézio, que ligou para agradecer.
- Fiquei com medo de ele ficar um pouco chateado, de não gostar. Mas ele me disse que tinha achado muito legal, que era uma mão na roda para ele (risos) - divertiu-se.
A amizade cresceu, e o locutor conheceu a família do jogador. Ficaram tão próximos que Ézio fez questão de dar um presente a ele em sua despedida dos gramados, em 1996, já pelo Atlético-MG.
Ele me disse que tinha achado o apelido muito legal, que era uma mão na roda para ele"
Januário de Oliveira
- Ele não havia contado para ninguém que ia se aposentar. Só mãe, irmã e esposa sabiam. Após o jogo no Maracanã, eu estava comandando uma mesa redonda. Quando terminou o programa, uma pessoa da produção me disse que tinha um grupo me esperando. Pensei que era um telespectador. Saí e vi o Ézio com sua família. Ele queria me dar a camisa de seu último jogo como profissional e agradecer pelo carinho nesses anos. Sua mãe ficou emocionada, chorou. Eu também fiquei. Tenho a camisa até hoje. Virou um troféu para mim - disse Januário.
Januário aprova apelido de He-Man
Criador de apelidos famosos como o dos ex-jogadores do Flamengo Charles “Guerreiro” e Sávio (Anjo Loiro da Gávea) e de bordões como “Está lá um corpo estendido no chão” e “sinistro, muito sinistro”, Januário de Oliveira aprovou a criatividade da torcida do Fluminense para os atuais gritos de incentivo para o time e também a brincadeira com Rafael Moura.
- Acho que He-Man está perfeito para ele. Chamar de time de guerreiros também é muito legal. O grupo todo é muito forte, pode ser campeão. Não dá para destacar um só, como na época do Ézio, do Rivellino. É muito equilibrado. Mas dessa vez não vou criar nada, não. Deixa para a torcida - concluiu.
Gaúcho de Alegrete, Januário de Oliveira começou a carreira na Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, e passou pela Rádio Nacional e pela Rádio Globo. Na televisão, foi narrador e apresentador da TVE, Manchete e Bandeirantes, deixando as funções em 1998, devido a complicações da diabetes.

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